Os dois fundos mais explosivos da bolsa voltaram aos holofotes — e não foi por boas razões. Os relatórios gerenciais de HCTR11 e DEVA11, referentes à competência de maio de 2025, foram divulgados com atraso e revelaram dados que preocupam investidores atentos.
A seguir, destrinchamos os principais pontos desses documentos, que ajudam a entender por que os dividendos seguem pressionados, e quais são os riscos que ainda rondam essas carteiras recheadas de CRIs problemáticos.
HCTR11: dividendo continua caindo e carteira permanece pressionada
O HCTR11 manteve seu cronograma de divulgação ruim, soltando o relatório apenas no mês seguinte ao pagamento — uma prática que vem sendo duramente criticada pela base de cotistas.
O fundo anunciou dividendo de R$ 0,28 por cota, com yield mensal de 1,13%, e 14,38% anualizado, considerando o valor de mercado. É mais uma queda nos rendimentos mensais, algo que vem ocorrendo desde o início do ano após a transição definitiva para o regime de caixa.
No fluxo de caixa, observou-se recuo nos juros (-500 mil) e nas amortizações (-600 mil), além de aumento nas despesas (+80 mil). Por outro lado, houve leve avanço na receita com FIIs (+130 mil). O resultado de caixa fechou em R$ 0,28 por cota, valor idêntico ao pago.
Alerta nos CRIs e na carteira
O relatório mencionou novo investimento de R$ 557 mil no HCST11, projeto que está com 97,9% das obras concluídas e entrega prevista para junho. Caso isso se confirme, o fundo pode destravar até 4 centavos em dividendos nos próximos meses.
Outro destaque foi a nova concessão de waiver para o CRI WAM, que representa 18,2% do PL. O novo prazo, até dezembro de 2025, chama atenção por sua curta duração, podendo indicar uma reestruturação mais avançada. Também houve menção à renegociação do CRI STX, embora sua participação seja pequena (0,4% do PL).
A qualidade da carteira continua preocupante:
- Ativos em dia caíram de 17% para 16%
- Carência de juros subiu de 68% para 69%
- Inadimplência permaneceu em 15%
- Caixa do fundo ficou estagnado em 0,6%
A perspectiva mais imediata gira em torno do fim do waiver do CRI GPK, previsto para agosto. Além disso, a possível quitação do CRI GJP — que no ano passado elevou os rendimentos em julho — pode repetir o feito e proporcionar um alívio temporário.
DEVA11: dividendo reforçado por reserva, mas fundamentos preocupam
Também com relatório gerencial atrasado, o DEVA11 anunciou dividendo de R$ 0,45 por cota, yield mensal de 1,39% e 16,26% anualizado. Porém, apenas R$ 0,41 foram realmente gerados no mês; os R$ 0,04 adicionais vieram de reserva de lucro.
O fundo agora conta com mais R$ 0,04 em reserva, que devem ser usados no pagamento do mês seguinte.
No fluxo de caixa, os números mostraram enfraquecimento:
- Juros (-300 mil)
- Correção monetária (-850 mil)
- Rendimento do caixa (-30 mil)
- Despesas (+90 mil)
- Receita com FIIs (+25 mil)
No total, gerou R$ 0,41 e distribuiu mais do que isso, usando reservas acumuladas ao longo do semestre.
Situação dos CRIs e novas movimentações
O relatório trouxe novidades importantes:
- Waiver do CRI Hope foi estendido até junho/26, com amortização extraordinária de R$ 500 mil (DEVA11 recebe ~R$ 100 mil disso).
- Waiver do CRI Chemin prorrogado até julho/25, data também do vencimento da operação.
- Avanço das obras dos empreendimentos ligados ao Chemin, com destaque para Franca (99%) e Araraquara (80%), agora com nova construtora.
Além disso, o fundo investiu R$ 546 mil em séries adicionais do CRI Chemin II, aumentando sua participação para 2,58% do PL.
A qualidade da carteira também piorou:
- Ativos em dia: 32,6% → 31,2%
- Em carência: 59,4% → 60%
- Inadimplentes: 8% → 8,8%
- Caixa: caiu para 1,6%, mas fechou o mês em leve alta, com 2%
O que esperar?
O Thermas São Pedro, cujo CRI foi reforçado em R$ 120 mil, entrou em inadimplência logo depois — algo que deve ser tratado no próximo relatório.
Além disso, o fundo ainda aguarda resolução sobre o CRI Wam e os desdobramentos do Chemin. Se os empreendimentos forem finalizados e o pagamento dos CRIs retornar, existe potencial para destravamento de até R$ 1,95 por cota acumulado em atrasos. A volta dos pagamentos mensais poderia adicionar de R$ 0,10 a R$ 0,15 aos proventos.
Conclusão: sinais mistos, com alívio pontual e riscos persistentes
Ambos os fundos continuam distribuindo dividendos elevados, mas apoiados em reservas (caso do DEVA11) ou em resultados apertados (caso do HCTR11). O atraso nos relatórios também reforça uma sensação de desorganização e falta de transparência.
Os investidores devem ficar atentos ao cronograma dos waivers e às entregas dos projetos — especialmente HCST11 (no HCTR) e Chemin (no DEVA) — pois esses eventos têm o potencial de melhorar temporariamente a rentabilidade, mas não resolvem os problemas estruturais das carteiras.